Na placa se lia “Vende-se”. A moça parou e confirmou o anúncio do jornal.
_ É aqui mesmo - gritou ela para o homem ao volante do carro. Ele sorriu, ela subiu os cindo lances de escada que a separavam da porta. Tocou e ouviu a campainha soar lá dentro, como um aviso. Escutou ruídos no interior da casa. A maçaneta girou, a porta se abriu e um rosto de mulher apareceu.
_ Oi – mostrou o anúncio – é aqui mesmo?
_ É – respondeu a mulher do outro lado da porta - entre.
Ela entrou. A sala era pequena, aconchegante. Nos sofás em tom pastel, mantas de franjas coloridas conferiam um ar alegre e folclórico ao ambiente. Nas mesinhas de centro, cachepôs coloridos exibiam exemplares de orquídeas raras. No aparador, vários porta-retratos. Um deles chamou a atenção da visitante, um casal numa pose alegre e despretensiosa. Ela reconheceu a mulher que lhe abrira a porta. O rapaz, com certeza, seria o noivo. Ou marido. Automaticamente, os olhos se desviaram para a mão, à procura da aliança. Nada. A voz cortou os pensamentos
_ Sente-se, por favor, vou buscar.
Ela se sentou, incomodada, sentindo-se descoberta nos seus pensamentos. Daí a pouco, a mulher entrou sobraçando uma grande caixa de papelão. Ela levantou-se, ajudou a afastar o vaso de orquídea de uma das mesas para dar lugar à caixa.
_ Aí está.
Esperou que a mulher abrisse a caixa. Um, dois, três segundos. Nada.
_ Abra.
_ Eu?
_ Você.
Ela obedeceu, meio sem jeito, era tudo tão esquisito. Levantou a tampa, depositou-a no único lugar vago que encontrou, o pedaço de chão junto à mesa. Com dedos trêmulos, pegou duas bordas de pano e começou a levantar. O vestido foi se abrindo em rendas, bordados e pregas até se tornar uma cascata branca a iluminar a sala e os olhos da visitante que se abriam, extasiados, acompanhando o movimento do pano. Por fim, o vestido suspenso no ar tirou-lhe o fôlego.
_ É lindo - conseguiu dizer.
Olhou a mulher e nada nela combinava com o sentimento de êxtase que a dominava. Obrigou-se a dominar o entusiasmo.
_ Vai mesmo vendê-lo?
Nova espera, desta vez por uma resposta.
_ Sim.
- E quanto você quer por ele?
_ Em dinheiro?
Ela não entendeu.
_ Em dinheiro, nada.
Desta vez, ela não teve dúvidas, ouvira bem.
_ Nada?.
_ Nada. Nem um centavo.
_ Então você vai doar, é isso- tentou brincar – vou ganhar meu vestido de noiva.
O semblante da outra continuou impassível. Ela, cada vez mais sem achar lugar, sem o que dizer, o que pensar.
_ Você pode levá-lo. Com uma condição.
_ Condição???.
_ Sim.
_ Qual?
_ Eu vou ao casamento.
_ Meu casamento?
_ Sim.
Era tudo muito estranho!
_ Por que você quer ir ao meu casamento?
A mulher ignorou a pergunta.
_ Aceita?
_ Espere um momento.
Ela levantou-se, foi até o carro, conversou com o noivo. A mulher esperava com paciência de anos. Ela voltou.
_ Você pode assistir ao casamento. Pode ir à festa, se quiser.
_ Outra coisa.
O que seria desta vez?
_ Quero me sentar na primeira fila, na igreja.
_ Mas é o lugar dos padrinhos!
_ Não importa, faça de conta que sou uma madrinha.
A situação estava ficando cada vez mais complicada. E aí? Aceitava? Não aceitava? Olhou para o vestido na mesinha. Imaginou-se nele. Tinha certeza, ficaria linda! Ela queria aquele vestido.
_ Tudo bem! Aceito.
Levou o vestido e deixou data, hora, endereço.
Não contou a ninguém o preço do vestido, só ela e o noivo que estranhou a segunda condição, mas nada disse porque sentiu o entusiasmo da noiva pelo vestido e não queria desapontá-la.
Chegou o dia do casamento. A igreja lotada esperava a entrada da noiva. Na primeira fila, do lado dos padrinhos da noiva, uma mulher que ninguém ali conhecia. O cerimonial tentou conversar com a noiva, seriam educados com a mulher, explicariam que era um casamento e ali era o lugar dos padrinhos. Mas a noiva foi firme, a mulher podia ficar ali. Não entenderam, mas obedeceram.
A cerimônia foi linda, a presença estranha daquela mulher não conseguiu tirar o brilho da noiva, linda num vestido quase mais lindo que ela. A recepção correu tranqüila, o cerimonial atento a qualquer situação que pudesse estragar a festa, mas nada. Nenhum penetra, nem mesmo a estranha mulher.
Alguns meses depois, uma noiva apareceu com o jornal na mão.
_ É aqui mesmo?
_ É – disse a mulher.
_ Entre e sente-se, vou buscar.
A mulher apareceu com a caixa. A noiva esperou.
_ Abra!
_ Eu?
_ Você.
Era o vestido de noiva mais lindo que ela já tinha visto.
_ Quanto?
_ Em dinheiro? Nada!